Tenho
me tornado, cada vez mais, fã instantâneo de entrevistados que respondem
sincera e diretamente às perguntas dos repórteres.
Isso
porque as entrevistas, hoje em dia, são absolutamente previsíveis e, portanto,
enfadonhas. Há respostas padronizadas, que, dadas recorrentemente da mesma
forma e no mesmo tom, tornam indignas de atenção tais empreitadas jornalísticas.
Os
jogadores de futebol, por exemplo, sempre respondem, quando derrotados no jogo,
que “o time jogou bem, fez o possível,
criou muitas oportunidades, mas, infelizmente, não saiu com a vitória” e
que “futebol é mesmo assim e que vão
trabalhar com o professor, durante a semana, para sair com melhor resultado”.
O
político está, em geral, sempre em cima do muro, tentando desagradar o mínimo
possível cada eventual segmento do seu eleitorado. Usa expressões genéricas e
alude a situações em abstrato. Nunca diz muita coisa, apesar de falar muito.
Esses
são apenas exemplos e usei as categorias que me vieram à mente no momento.
Aludir somente a políticos, nesse momento, seria injustiça e desleadade.
Na
verdade, todos, e talvez eu mesmo já o tenha feito (pela prudência recomendada
pelo ofício e não por vontade própria – defendo-me), demonstram essa tendência
em entrevistas. Estamos todos ficando acostumados a falar muito e bonito para
não dizer nada.
Tais
respostas, geralmente, são politicamente corretas e socialmente aceitáveis. Diz-se
aquilo que não vai causar muitos problemas. Ocorre que, para não causar
problemas ou para não desagradar a ninguém, não se pode dizer quase nada, o que
gera um déficit de conteúdo incrível nessas entrevistas.
Em
breve exceção a esse modelo, vi (em um portal de notícias da Internet) que um
advogado, questionado sobre se as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal
poderiam indicar a libertação de seu cliente, respondeu brevemente: “o advogado que acha alguma coisa sobre um
juiz é imprudente”.
Não
que a resposta tenha muito conteúdo. Na verdade, o próprio advogado, deliberadamente,
seguiu a ideia de prudência que apresentou e, portanto, evitou se comprometer
com alguma opinião (o que é perfeitamente natural na situação).
O
interessante foi que falou de forma direta e elegante, em vez de iniciar um
discurso interminável para dizer em muitas palavras o que pode ser dito, com
clareza, e de forma simples.
Aliás,
Ludwig Wittgenstein, filósofo austríaco naturalizado britânico, uma vez disse, muito precisamente, que: “o que se pode dizer pode ser dito
claramente; e aquilo de que não se pode falar tem de ficar no silêncio”.
Interessante
que recordei de uma célebre história de um Desembargador do Tribunal de
Justiça da Paraíba que, por ocasião das Eleições ocorridas no Estado, atuava
como Presidente do Tribunal Regional Eleitoral e, portanto, coordenava o
processo eleitoral à época.
Dizem
que, na véspera da realização das Eleições, foi perguntado por um repórter
local sobre o que faltava para que o pleito eleitoral pudesse ocorrer
normalmente.
Inteligentemente
e sem perder o bom humor, a pergunta foi assim respondida: “falta apenas a Terra dar uma volta em
torno de seu próprio eixo”.
Reposta
sábia, direta e elegante, que Wittgenstein certamente aprovaria.
*imagem
retirada (sem intuito de lucro) de http://lilieducacaofisica.zip.net/images/chute.jpg
|