Conversei brevemente com o
Imperador Trajano ontem à noite. Acreditava estar dormindo, mas me vi desatando
os arreios de seu cavalo, enquanto ele desmontava e passava em revista os
soldados feridos em um acampamento militar.
Estávamos, se bem recordo, no
que seria a atual Romênia, em enfrentamento às tropas dácias, no que presumo seja
o ano de 107 depois de Cristo. Isso segundo posso agora estimar pela análise dos
fatos que presenciei.
Lembro que chovia bastante e a
lama parecia brotar entre as tendas militares de descanso. Em um campo
absolutamente alagado, onde o musgo engolia meus pés, havia centenas de
soldados feridos, rogando por proteção aos deuses. Entoavam, ao nosso redor,
lamúrias e choravam copiosamente, de dor e aflição. O César, que caminhava
pausadamente, observava complacentemente a cena.
A despeito disso, irrompeu
certo frenesi. Com os integrantes da cavalaria chegara a notícia de
que o Rei da Dácia, Decébalo, estava morto e, portanto, a campanha militar logo
se encerraria.
E foi Tiberius Claudius
Maximus, oficial da cavalaria romana, quem trouxe a ensanguentada cabeça do
soberano, envolta em uma túnica vermelha, que pingava um sangue escuro e
viscoso. Disse ao Imperador Trajano que Decébalo havia tirado a própria vida,
cortando com a espada o próprio pescoço, quando se viu cercado pelos cavaleiros
romanos.
Coube a mim receber cuidadosamente a nobre
fronte das mãos de Tiberius e guardá-la em um baú, a ser remetido à Roma, já
que o Imperador demonstrou certa indisposição em tocá-la, tendo indicado com a
mão para que eu cuidasse do sinistro troféu.
Deu ordens, em seguida, para
que se procurasse pelos restos mortais do finado soberano, com o objetivo de
que lhe fosse providenciado um enterro com dignidade compatível com a função
por ele exercida. Virou-se, enquanto retiravam sua armadura.
Encerrado o penoso dia no
front de batalha com a alvissareira notícia, recolhemo-nos todos à tenda
imperial. Nela, fomos recebidos com frutas frescas da região e um vinho de
excelente qualidade. Foi reservada ao Imperador a companhia de belas donzelas
da região.
Findo o jantar, tratou o César
de resolver as questões de política pendentes, dialogando com Senadores que
acompanhavam a campanha militar. Pude escutá-lo vaticinar que anexaria, em breve,
a região compreendida pelo Império Parta, correspondente à Armênia, Assíria e
Mesopotâmia. Parecia exercer considerável influência sobre os reconhecidamente
traiçoeiros aristocratas.
Confiou a mim, soldado da
guarda imperial e, aparentemente, seu ajudante de ordens, que providenciasse a
desmobilização do acampamento e que enviasse mensageiro à Roma e ao resto do mundo, contando sobre
a acachapante vitória sobre os dácios. Recomendou-me pressa e precisão no texto
a ser redigido.
Disse-me, como em despedida,
olhando em meus olhos, que eu viveria em novo século e milênio para ver que o Império
Romano chegaria com ele à sua máxima extensão territorial e esplendor. Contou,
também, que não haveria outro governante, nos seguidos séculos, que trouxesse,
a partir da lucidez e temperança, maior glória ao Império dos Impérios.
Rememorou-me a lição de Horácio: “Est
modus in rebus”, enquanto desaparecia.
...
Ofegante, acordei.
(...)
Marco Úlpio Nerva Trajano (em latim: Marcus Ulpius
Traianus; 18 de setembro de 53 — 9 de agosto
de 117)
nasceu em Itálica (atual Santiponce), na Bética,
no sul da Hispânia,
perto de Híspalis (depois Sevilha) em 53 d.C. Foi imperador
romano de 98 a 117. Durante sua administração, o Império Romano
atingiu sua maior extensão territorial graças às conquistas do leste.
Trajano também é notado pelos seus extensos programas de obras públicas e as
políticas sociais implementadas durante o seu reinado.
É considerado por muitos
romanos da época e por alguns historiadores como o maior dos imperadores
romanos.
A titulação completa de
Trajano no momento de sua morte era:
Imperator Caesar Divi Nervae
filius Nerva Traianus Optimus Augustus Germanicus Dacicus Parthicus, Pontifex
maximus, Tribunicia potestate XXI, Imperator XIII, Consul VI, Pater patriae
*Texto explicativo e imagem retirados da Wikkipédia e aqui reproduzidos sem fins lucrativos. A primeira imagem diz respeito a “A Coluna de Trajano”, monumento em Roma construído sob a ordem do Imperador Trajano, pelo arquiteto Apolodoro de Damasco em comemoração às vitórias das campanhas militares contra os dácios. A segunda imagem mostra a extensão do Império Romano durante o governo de Trajano.