Contou-me um amigo
juiz que, assombrado com a alta distribuição de processos ao seu gabinete em um
determinado dia, decidiu trabalhar no fim de semana para reduzir o seu acervo
de processos conclusos para sentença.
Chegando ao vazio e pacato
Fórum de interior no domingo pela manhã, cumprimentou o segurança e tratou de
se apressar em sentenciar um a um os processos que haviam sido colocados em seu
gabinete por uma assessora.
Findo o dia, foi para casa
satisfeito, já que tinha conseguido, ao menos, acabar com um das pilhas de
processos que estavam em cima de sua mesa e, agora, já tinha, pelo menos, lugar para
descansar seus cotovelos.
Chegando no dia seguinte,
o local que havia esvaziado em sua mesa estava, novamente, preenchido por
processos. Foi quando então ele abriu a capa dos primeiros processos da
pilha para constatar se eram os mesmos do dia anterior ou se eram novos
processos trazidos pela assessora, tarefa que concluiu com a certeza de que
eram diversos, já que não se recordava nem das partes nem do conteúdo desses
outros que lá estavam.
Decidiu, então, reiniciar
a tarefa de examinar e sentenciar cada um deles.
Já quase finda a pilha de
processos, compareceu à secretaria do Fórum o advogado de uma das partes de um
dos tais processos requerendo vista dos autos em cartório (examinar o processo lá mesmo), pelo que a assessora perguntou ao juiz se esse feito em particular já
havia sido sentenciado.
Olhando um a um os
processos da pilha, o juiz, após analisar o último, respondeu que sim, que
acabara de sentenciar aquele e que o advogado já poderia consultar o feito após
a secretaria juntar a sentença aos autos.
Minutos depois, a
assessora corre para o gabinete do juiz e diz:
̶ Doutor,
não sei o que faço, o senhor devolveu o processo com duas sentenças na
contracapa dos autos. Numa delas, o senhor deu ganho de causa ao cliente do
advogado que está lá fora; na outra o senhor o condenou. O advogado está perguntando
de qual sentença será intimado.
Ao que o juiz, surpreso
por ter sentenciado o mesmo feito de forma diametralmente oposta no intervalo de um dia, respondeu:
̶
Diga-lhe que prevalecem as sentenças proferidas em dia útil. O trabalho
em finais de semana não faz bem ao humor de ninguém e não haveria de ser
diferente comigo. Provavelmente incorri em erro ontem e não hoje.
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