quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Testemunha



Quão ingrata é a posição da testemunha...

Geralmente arrolada por uma das partes, sente a responsabilidade pelo futuro de outro ser humano recair sobre o seu relato. Sabe que as palavras que verbaliza podem conduzir a um destino diverso e, frequentemente, pouco auspicioso para os envolvidos.

Ser humano que é, carrega compaixão, empatia e, em geral, não deseja causar dano a ninguém. Está nervosa, pouco confortável com a situação e deseja apenas sair dali.

Não obstante, está obrigada por lei a dizer a verdade do que viu e presenciou.

Às vezes finge naturalidade, outras vezes adota o formalismo, mas não consegue disfarçar o nervosismo.

Dialoga internamente tentando dizer o que deve dizer sem prejudicar a si mesma ou ao réu, geralmente pessoa conhecida. Por vezes consegue. Muitas vezes falha.

Inquirida por todos na sala, é obrigada a contar as piores fofocas na frente do próprio implicado nelas. Tem, portanto, a obrigação da descortesia.

Relatando o que presenciou, é pressionada pelas partes a dizer o que tem para dizer da forma mais grave ou amena possível, a depender do caso, quando não a confessar coisas que fez e não gostaria de expor.

Terminada a inquirição, recebe um “obrigado”, “boa tarde” e volta para casa, agora tendo que lidar com novas inimizades.

Pesando e medindo, às vezes parece melhor ser réu a ser testemunha.

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