segunda-feira, 9 de julho de 2018

Melancholia


Esse é o título de um filme dinamarquês, dirigido pelo polêmico Lars von Trier. É estrelado por Kirsten Dunst (do filme "As Virgens Suicidas"), que interpreta uma melancólica noiva, abandonada pelo marido no dia seguinte ao da cerimônia de casamento e que, mergulhada em depressão profunda, se mostra absolutamente tranquila e impassível ante a iminente destruição da Terra em virtude da colisão com outro planeta, que se aproxima lentamente.

Tal apatia, na verdade, é um comportamento bastante observado nas pessoas que passam por episódios de depressão, que reagem com desapego, calma e desinteresse em relação a acontecimentos catastróficos. É um estado de letargia, de “tanto faz”, de não pertinência, que invade as pessoas que não têm perspectivas de felicidade em curto ou médio prazo.

Passada a eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo, temos notado um estado de desânimo nacional generalizado. Todo o lirismo, espírito de corpo e otimismo que cercam esses eventos foram subitamente substituídos por aquilo que a ninguém é dado desconsiderar por muito tempo: a implacável realidade.

Ela, que estava nos bastidores, como que um bicho à espreita, retorna, pulsante, febril e enérgica, às luzes do palco principal.

Se antes podíamos nos embriagar nas manchetes esportivas, nos papos sobre futebol e praticando o habitual escapismo moderno, consistente em se furtar ao clique em links de temas pesados, agora voltamos, inescapavelmente, à conhecida rotina.

Receber textões no whatsapp; ser interpelado em salas de espera de clínicas médicas para falar sobre o sombrio cenário político brasileiro; observar discussões entre transeuntes sobre temas de evidente desacordo moral, como aborto, legalização das drogas, machismo/feminismo; ser questionado sobre o seu voto nas próximas eleições pelo padeiro. Aconteceu: definitivamente, voltamos à nossa conhecida realidade.

Tanto que somos bombardeados por esses temas na nossa vida diária que acredito que precisávamos mesmo desse período de expurgo. Pena que durou tão pouco. Receio que tenha sido insuficiente para arejar nossas mentes. Com a derrota da seleção, perdemos nossa válvula temporária de escape.

Aturdidos, conformados e apáticos, voltamos à realidade.


*Imagem relativa ao material de divulgação do citado filme, reproduzida aqui sem fins lucrativos. 

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