Processo volumoso, de páginas encardidas. Percorro as folhas dos autos, entre um espirro e outro. Leio-as, uma a uma. Documentos que não conheço e informações técnicas incognoscíveis.
Não compreendo, nem superficialmente.
Volto ao início. Procedo à mesma operação. Repito-a, cuidadosamente, com obstinação.
Sem avanço, frustro-me e levanto-me, rangendo a cadeira.
Saco da geladeira a garrafa d’água. Ela sua ao meu toque. Sente minha angústia. Compartilha meu pesar. Me conforta.
Encho um copo do líquido e direciono-o para o bico fluorescente da sala. A luz atravessa a água e atinge minha retina. Fecho os olhos.
Vem a lucidez que me faltava.
Retorno à escrivaninha.
Escrevo em caneta: “Designo audiência para a próxima quarta-feira. Compareçam autor e réu”.
No dia marcado, o autor, sem delongas, toma da palavra e diz: “Dr., esqueça o que tá no papel, eu fico satisfeito com isso”. Ato contínuo, diz o réu: “se eu soubesse, já tinha dado”.
Em 2 minutos, aberto o áudio, encerro a questão, oralmente: “havendo composição amigável, cabe ao Estado-Juiz homologar o acordo para que surta os efeitos pretendidos pelas partes, P.R.I”.
Assinando a ata, recordo Leonardo da Vinci, que dizia: “A simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”.
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