A gravidade é uma
das quatro forças fundamentais da natureza, em conjunto com o eletromagnetismo,
a força fraca e a força forte. Ela não pode ser vista em concreto, mas é
aferível cientificamente e facilmente demonstrada pelo peso que se pode
observar nos objetos, que faz com que caiam ao chão caso sejam soltos.
Do ponto de vista cosmológico,
a gravidade faz com que a matéria dispersa se aglutine, e que essa matéria
aglutinada se mantenha intacta, permitindo dessa forma a existência de
planetas, estrelas, galáxias e da maior parte dos objetos macroscópicos no
universo.
...
Há alguns anos perdemos nosso
avô Hermillo.
Vez ou outra me ponho a pensar
sobre ele.
Já faz alguns anos que não nos
vemos, embora sempre estejamos o escutando, pelas histórias que contamos e
relembramos de sua vida. Somos, eu e ele, inclusive, colegas de profissão,
embora ele não tenha chegado a saber disso.
É uma pena que eu era
relativamente jovem quando de sua partida. Certamente nos compreenderíamos
melhor, agora que sou adulto e posso ver o mundo de maneira análoga a que ele
certamente via. Tivesse ele partido mais tarde, poderia eu (e meus familiares)
tê-lo apreendido melhor.
Era um homem de uma memória
invejável, que recitava de cabeça um abrangente catálogo de textos e
poemas. Tinha bastante interesse em ciência e fazia observações curiosas e
percucientes sobre aspectos interessantes da existência humana.
Era um sujeito que seria visto
como excêntrico, em comportamento e predileções, e que guardava um atrativo
mistério sobre sua personalidade, talvez por ser, de certo modo, pouco
previsível, inclusive no agudo senso de humor.
Seu fanatismo por recordações
era incompreendido por mim quando criança. Ao longo da vida, ele preencheu
inúmeras paredes com fotografias de antepassados e textos históricos. Esse
costume se intensificou à medida que envelhecia. Confesso que, quando criança,
temia aquelas fotos antigas em preto e branco de pessoas já falecidas. Os
textos, ao tempo, pela sua complexidade, eram pouco representativos para mim, a
não ser as mensagens mais simples, como o “É não se fazendo nada que se aprende
a fazer o mal” estampado em cima da televisão, que já compreendia
perfeitamente, como um desestímulo ao ócio.
Um outro desses textos, de
autoria de Abraham Lincoln e escrito em papel com aspecto de pergaminho, foi,
inclusive, xerocopiado por meu pai e dado a mim de presente em moldura, guarnecendo,
hoje, uma das paredes do meu gabinete. Trata-se de importante lição de respeito
à natureza livre do ser humano e de civismo.
Agora que, mais maduro, vejo a
vida com olhos parecidos com os dele, vejo que sua sanha em documentar e expor
aquilo que ele achava importante era sua maneira de deixar para seus
descendentes e conhecidos suas impressões e sua forma de ver o mundo, coisa que,
aliás, também gosto de fazer quando aqui escrevo.
A aposição das tais
fotografias dos antepassados eram homenagens rendidas aos entes queridos, que
além de compartilharem sangue, material genético e origem comuns, ajudaram a escrever
nossa personalidade e nos tocam, constantemente, com lições sobre a vida e
exemplos, bons e ruins, como é próprio do comportamento humano.
Os tais textos históricos são,
hoje, melhor compreendidos a cada vez que os leio, quando perco o olhar sobre
um deles, entre uma ida e outra à sala ou quando abro a geladeira e eles lá
estão revestindo a parede, aguardando nova leitura.
...
Percebo, hoje, que a
influência por ele deixada não difere da influência da gravidade sobre os
corpos celestes. Não pode ser vista, mas pode ser fortemente sentida e nos toca
diariamente. Possui, também, o mesmo efeito aglutinador, mantendo junta a
matéria de que somos formados, criando um conjunto finito e predominantemente
coeso de corpos chamado família.
Fernando, excelente reflexão. Recordo-me das vezes que vi seu avô rescitar poesias e muito me impressionava tamanha capacidade de memorizar tantos textos densos. Certamente alegria imensa de onde não vemos mas cremos que existe sente o saudoso senhor.
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