quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Reencontro



O encontro não era esperado, embora fosse previsível.

Tomada de surpresa, os primeiros segundos são de adrenalina. A boca está seca. O coração, disparado.

Contendo-se, toma um assento. Enquanto se acomoda, doutrina a si mesma: "aja com naturalidade".

"Me refiro às partículas e não ao composto", diz ele, alheio à nova presença no ambiente.

Mexendo em seus papéis, ela finge estar se envolvendo na discussão.

Não está, todavia, envolvida. Aguarda ser notada e premedita suas ações.

"Tenham cuidado ao inverter a lógica. A equação só funciona em um sentido", diz ele, voltando-se, agora, ao grupo.

Ajeitando os cabelos por trás da orelha, ela tenta manter longe o olhar. "Olhos denunciam", pensa.

Não podendo mais fugir ao contato, cede.

"Boa tarde, seja bem-vinda".

Nesse momento seu cérebro feminino começa a trabalhar em sua melhor capacidade avaliativa. O conhecimento adquirido de anos de relacionamentos interpessoais é posto à prova. Padrões comportamentais universalmente repetidos ajudam na tarefa de detecção da permanência de interesse. (Desde a adolescência seu sistema nervoso central vem aperfeiçoando a técnica).

Nos seus expressivos e masculinos olhos, contudo, parece haver a serenidade de quem nada esconde. Nas suas palavras, a tranquilidade de quem não evita se deixar ver. "Parece feliz", ela pensa, concluindo de forma simples uma complexa tarefa rapidamente realizada pelo seu cérebro.

"Prestem atenção na escala", ele frisa.

Enquanto isso, ela continua analisando-o meticulosamente. Observa seus gestos, tenta ler suas expressões. Avalia-o. "Será que encontrou alguém?". "Na mão não há ouro".

"Todos entenderam?" Ele questiona.

Não adianta. Nesse ponto aquilo, o trabalho, já não mais lhe interessa. Não a ela. A naturalidade das palavras dele, do seu discurso, incomoda, entristece. Após um breve diálogo interno, constata: "ele está feliz".

"Terei que me ausentar um pouco mais cedo em função de um compromisso", disse ele, abruptamente.

(Desânimo)
A quase certeza transformou-se em convicção.

A sala agora parece-lhe vazia. Um silêncio ensurdecedor invade-lhe a mente. Calafrios lhe atravessam a espinha. Suas orelhas ardem como brasa.

C'est fini.

Com o rosto lívido, disfarçando o inescondível, ela se despede formalmente: "prazer revê-lo".

18:00. Fim da reunião.

FBX



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