O
encontro não era esperado, embora fosse previsível.
Tomada
de surpresa, os primeiros segundos são de adrenalina. A boca está seca. O
coração, disparado.
Contendo-se,
toma um assento. Enquanto se acomoda, doutrina a si mesma: "aja com naturalidade".
"Me refiro às partículas e não ao composto",
diz ele, alheio à nova presença no ambiente.
Mexendo
em seus papéis, ela finge estar se envolvendo na discussão.
Não
está, todavia, envolvida. Aguarda ser notada e premedita suas ações.
"Tenham cuidado ao inverter a lógica. A
equação só funciona em um sentido", diz ele, voltando-se, agora, ao
grupo.
Ajeitando
os cabelos por trás da orelha, ela tenta manter longe o olhar. "Olhos denunciam", pensa.
Não
podendo mais fugir ao contato, cede.
"Boa tarde, seja bem-vinda".
Nesse
momento seu cérebro feminino começa a trabalhar em sua melhor capacidade
avaliativa. O conhecimento adquirido de anos de relacionamentos interpessoais é
posto à prova. Padrões comportamentais universalmente repetidos ajudam na
tarefa de detecção da permanência de interesse. (Desde a adolescência seu
sistema nervoso central vem aperfeiçoando a técnica).
Nos
seus expressivos e masculinos olhos, contudo, parece haver a serenidade de quem
nada esconde. Nas suas palavras, a tranquilidade de quem não evita se deixar
ver. "Parece feliz", ela
pensa, concluindo de forma simples uma complexa tarefa rapidamente realizada
pelo seu cérebro.
"Prestem atenção na escala", ele
frisa.
Enquanto
isso, ela continua analisando-o meticulosamente. Observa seus gestos, tenta ler
suas expressões. Avalia-o. "Será que
encontrou alguém?". "Na mão
não há ouro".
"Todos entenderam?" Ele questiona.
Não
adianta. Nesse ponto aquilo, o trabalho, já não mais lhe interessa. Não a ela.
A naturalidade das palavras dele, do seu discurso, incomoda, entristece. Após
um breve diálogo interno, constata: "ele
está feliz".
"Terei que me ausentar um pouco mais cedo em
função de um compromisso", disse ele, abruptamente.
(Desânimo)
A
quase certeza transformou-se em convicção.
A
sala agora parece-lhe vazia. Um silêncio ensurdecedor invade-lhe a mente.
Calafrios lhe atravessam a espinha. Suas orelhas ardem como brasa.
C'est fini.
Com o
rosto lívido, disfarçando o inescondível, ela se despede formalmente: "prazer revê-lo".
18:00.
Fim da reunião.
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